Todos nós que fazemos parte de maneira direta de uma realidade de Novas Comunidades trazemos sempre em questão o seguinte ponto: “O que é ser Comunidade?”, será que o fato de ser membro de uma Comunidade me torna Comunidade?
Bom, eu acredito que não. Você pode ser membro de uma Comunidade e não ser Comunidade. A mesma dinâmica do ser igreja, você pode ir a Igreja, participar da missa, do grupo de oração, das pastorais e ainda sim, não ser Igreja. Não necessariamente o que você faz, é o que você é.
A vocação da Vida Comum é uma Graça do alto que não é dada a todos, não de forma pessoal, mas à todos, de forma geral. E isso está atribuído a vivência comunitária e a vivência fraterna, é a grande partilha do seu “eu” com o “eu” do outro. É claro que na teoria tudo são rosas, mas é porque você está olhando por cima, viver fraternamente é viver por baixo mas olhando pra cima, ou seja, enxergar no seu irmão a pessoa que ele é, seus espinhos, mas reconhecer que ele é pecador e falho tanto quanto você mesmo, e é aí que você olha pra cima e enxerga a rosa, a beleza. Nivelar por cima é a primeira graça alcançada por aquele que ao encontrar a vocação a vida consagrada se decide, – porque amar é decisão – olhar o Cristo que existe nele, por mais que também exista os seus “Judas”, simplesmente porque ele é falho igual a você, igual a mim. Isso é vida fraterna e comum, isso é amar.
“O amor de Cristo, difundido em nossos corações, impele a amar os irmãos e as irmãs até o assumir suas fraquezas, seus problemas, suas dificuldades. Numa palavra: até a doar-nos a nós mesmos.” ( Doc. A vida fraterna em Comunidade )
Faz parte do ser Comunidade a morte, é isso mesmo que você leu, morte. Ser Comunidade é morrer. O consagrado que não morre, não gera fruto, o consagrado que não sente a dor junto, que se preciso, chora junto e principalmente, que não reza junto, este então não tem sentido em sua consagração. O consagrado existe para o outro, e por isso, somente por isso, como vai dizer nosso amado Papa Francisco: “O olhar dos consagrados só pode ser um olhar de esperança”. Um consagrado sem esperança, é um consagrado sem vida, e se sua consagração não for fonte de vida para o outro, certamente não será também para si.
É preciso se permitir e fazer a experiência diária de morte e ressurreição. Só assim você será capaz de ser o consagrado que Deus sonha que você seja, é o “Eu sou aquilo que Deus pensa de mim.” de Santa Teresinha. O caminho de descoberta – porque é contínua – da vocação precisa gerar no outro esperança para quando chegar a consagração, gerar vida. É um caminho que sem desvios precisa ser percorrido, pois se acaso o meu irmão se encontrar incapacitado de sair de um buraco que pode até ser que ele mesmo tenha cavado, eu preciso estar pronto para tirá-lo de lá e não ficar lá junto com ele. Ai está a beleza da Vida Comunitária, acreditar que a minha fidelidade na minha vocação, que muitas vezes plantada com lágrimas, pode salvar a vocação, a vida, e posso dizer que até a alma do meu irmão com alegria, porque assim como eu, ele foi chamado, pessoalmente por Deus, a ser corpo no Carisma e um corpo aleijado não pode ir muito longe.
“Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria.” (Salmo 125, 5 )
Zelar pelas vocações no Carisma, é também cuidar da Castidade do Corpo Comunitário. Primeiro zelar para depois difundir. Não há alegria maior para um consagrado do que difundir o seu Carisma pelo mundo, talvez o “mundo” seja na região que está sediada, talvez o “mundo” daquela Comunidade pode ser de fato o mundo inteiro mesmo, mas sobretudo, faça com amor. O consagrado que não ama, que não faz os serviços pequenos e mais simples com amor jamais conseguirá ser sinal do Cristo nas grandes. Até porque, as pessoas podem não ouvir você falar ou pregar o Evangelho mas podem ver você varrendo a calçada da Casa Comunitária e ali, ser tocada por Deus. Não é fazer, é ser. Comunidade não é ser membro apenas, é ter a participação plena naquilo, de corpo e alma, é se gastar, é bombear o sangue pro membro do Corpo Comunitário que talvez esteja com hematomas, feridas, quase deixando ser parte do corpo fazendo com que este retorne a vida, é ser parte no mistério Trinitário de Cristo, principalmente quando a sua ferida está exposta, é ser frágil e ser firme, é ser autoridade e ser obediente, é exercitar a fidelidade e a verdade, consigo, com os outros e com Deus.
O Carisma tem que ser fonte primeiro para nós, fonte de vida, de ressurreição, e de santidade.
“A comunidade religiosa não é um simples aglomerado de cristãos em busca da perfeição pessoal. Em sentido muito mais profundo, é participação e testemunho qualificado da Igreja-Mistério, enquanto expressão viva e realização privilegiada de sua peculiar «comunhão», da grande «koinonia» trinitária a que o Pai quis fazer participar os homens no Filho e no Espírito Santo.” ( Doc. A Vida Fraterna em Comunidade )
Aline Pinheiro
Discípula CCPD